A BACANAL DE COBERVILLE–III–CHATEUABRIAND E O PRÊT-À-PÔRTER

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À própria Cruzeiro de Chateuabriand, Faith declarou: “Eu amo as brasileiras, eu as observo e sempre tento descobrir como fazem para se mover, de que maneira andam um pé após o outro quase flutuando pelas ruas e com isso, flagro-me a imaginar maneiras de fazê-las mais graciosas nos mínimos movimentos, qual o melhor tecido para isso, o melhor corte para envolver o corpo das brasileiras, em seus vários tipos de beleza. O resultado de tudo isso você poderá ver aqui em Coberville, no meu baile a fantasia, em homenagem ao Brasil. Será um estouro, posso garantir”.

E ainda por cima proclamava com orgulho que a primeira dama brasileira, dona Darcy Vargas em pessoa presidiria seu evento em nome do presidente.

--- Verdade, Sr. Faith? A primeira dama estará presente?

--- Venha e verá. Está convidado... – Invariavelmente um sorridente Faith respondia aos jornalistas, aguçando ainda mais a curiosidade natural da classe e botando fogo na cadeia de boatos que já queimava tanto na França quanto no Brasil.

E não eram só as declarações de Faith que alimentavam as especulações.

Chateuabriand, que há muito acordara para o negócio da moda, olhara para os milhares de dólares por ano que o negócio rendia e não perdeu tempo para garantir a qualidade monumental do evento.

Queria marcar a presença do Brasil definitivamente neste mercado. E tomou medidas pantagruélicas.

Fretou três aviões Constellations da Pan Air. Dois para nossas modelos que desfilariam pelos palcos da Europa, um apenas para os artistas que contratara para animar a festa.

Contara com a união das Fábricas Bangu, Corcovado, America Fabril, Cia Rohdia Brasileira, Fábrica Rio Tinto PB Tecelagem do Algodão PE. E não era a toa, Chateuabriand não era movido apenas pela sugestão maliciosa e vingativa de Aymée, que quanto mais boatos sabia, menos continha seus adoráveis sorrisos e nunca, segundo seu próprio amante, esteve tão bela.

Quanto a Chateuabriand, sentia-se jovem novamente. Ao mesmo tempo em que realizaria seu sonho, acreditava que a exportação do algodão estava madura, os tecidos brasileiros tinham qualidade intenacional, o mercado do pret-à- porter pedia uma variedade de tecidos e matéria prima cada vez maior. E se nos demais mercados internacionais a predominância dos Estados Unidos da America era absoluta, o mesmo não se podia dizer no que ocorria no mundo da moda.

Aqui a França dominava absoluta. E exercia seu domínio exigindo cada vez mais produtos para senhoras enriquecidas, ateliês extravagantes e costureiros refinados.

Neste sentido, o algodão de fibra longa (Seridó), sua exportação e faturamento era como uma fruta prestes a apodrecer no galho e que ninguém colhia nem reparava, apenas ele.

Chateuabriand, sabendo onde estava o tesouro, simplesmente recusou-se a deixar tal fruta apodrecer sem experimentar seus dividendos. Iria arranca-la da árvore e morde-la. E ao mesmo tempo realizar seu sonho de mostrar a verdadeira face do Brasil ao exterior. Custasse o que Custasse. E de preferência que pesasse no bolso de outros também. E foi atrás de um patrocínio para seu grandioso e inédito projeto.

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