A BACANAL DE COBBERVILLE–VII–A REAÇÃO DE GETÚLIO VARGAS–FINAL

 

Quem foi Filinto Müller | VEJA SÃO PAULO

No dia seguinte partiram, Wainer e Mueller, para São Paulo.

De Guarulhos foram direto para a conciérge do amante do primo de Chateuabriand.

Mueller sacou logo seu jogo de gazuas e começou a arrombar a fechadura. Em menos de um minuto estavam dentro do apartamento previamente sondado. Não havia ninguém. Prepararam o material.

Mueller instalou os grampos em 15 minutos, seu recorde pessoal. Wainer, tremendo, demorou exatos 22 minutos para botar o filme dentro da máquina.

Foi para quarto contíguo com uma porta de ligação ao quarto da vítima. Mueller escondeu-se no armário do quarto do sujeito.

Escancarar o armário com o máximo de barulho possível seria o sinal para Wainer entrar com tudo e fotografar a violência de Mueller.

Meia hora depois a porta da frente se abriu. O armário escancarou-se. Wainer invadiu o quarto. Flashes espipocaram e quase cobriram os gritos da vítima enquanto Mueller lhe amassava as faces com seu soco inglês.

Quando finalmente o homem desmaiou, levaram-no para o quarto ao lado, desmancharam qualquer vestígio de suas ações e descansaram os nervos com uma garrafa e meia de uísque barato.

No dia seguinte encontrou-se com Rafael num café em frente a redação do Estado. Arrochou-o com as fotos e as fitas gravadas por Filinto Mueller.

Oliveira viu seu amante ensanguentado nas imagens, ouviu seus gritos, engasgou-se e cuspiu boa parte do pão com manteiga que mastigava de volta para o prato. Topou na hora.

Logo a voz do Estado de São Paulo se levanta acusando Chateubriand de preparar uma armadilha para Darcy Vargas.

“Assim, o senador Chateuabriand atraiu para essa bacanal de repercussão mundial, nossa própria primeira dama, dando uma bofetada em nossa sociedade tão ciosa dos bons costumes e pautada nos ditames da mais severa moralidade apenas pelas solicitações mórbidas de uma senilidade precoce, que o desarticula apalhaçadamente em auras progressistas.”

Getúlio lê a reportagem.

Longa gargalhada de Getúlio.

--- Tu mereces um brinde especial Samuel – diz a Wainer um risonho Vargas enquanto dirige-se a um armário, retira a chave de uma corrente do bolso, abre-o e de lá tira uma garrafa de Canha da boa. Serve duas doses generosas e a dá ao amigo que bebe quase cuspindo a forte ardência da cachaça gaúcha.

No dia seguinte Lacerda percebe a inutilidade de seus ataques ao governo. Recua das acusações sobre Getúllio e Silveira. Ataca Chateaubriand.

“Não podendo entrar para a história por um alto feito, o senador da Paraíba, Assis Chateuabriand contenta-se em o fazer através do anedotário. Para que construiu o senhor Chateuabriand o seu império... Esse jornalista tem horror ao jornal.”

Getúlio lê a reportagem. Longa gargalhada de Getúlio.

--- Meu caro Wainer – mostra a Tribuna com as palavras de Lacerda – isso é o que eu chamo de um trabalho bem feito. A partir de hoje, A Última Hora terá um subsídio governamental absolutamente particular. Ou seja. Um subsídio que ficará somente entre nós dois. O subsídio da amizade. Concorda?

Wainer que havia tomado duas canhas, sorri e abraça Getúlio. Os dois riem e dão-se tapinhas afetuosos nas costas.

Então, Chateuabriand perde a compostura com o primo irmão, Rafael de Oliveira, e declara atabalhoadamente: “O que escreveu o Estado de São Paulo é a invencionice de tipos que a Paraíba expeliu do seu seio, segundo os métodos notórios da nossa lei, com surras sucessivas de rabo de tatu e peia de couro cru”.

Getúlio recebe a declaração por telex. Lê. Longa gargalhada de Getúlio.

--- Ele está acabado.

getulio

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