A BACANAL DE COBERVILLE– V - O ESCÂNDALO NO BRASIL

 

cruzeiro-corberville

 

Então Darcy Vargas é fotografada ao lado de Jacques Fath que novamente mudou sua fantasia, continua sem camisa mas está vestido de Fauno. A primeira dama está sorrindo de maneira exagerada ante tão extravagante visão. Não é de se admirar. Havia inalado também a Amila e o gás da alegria fazia das suas em sua cabeça.

A festa, só terminou, não se sabe direito como, as 4 horas do dia seguinte e já era manchete.

No Brasil, a imprensa não perdoou. No dia seguinte A Tribuna notícia: “Cachaça e Champanhe para 76 brasileiros levados em aviões fechados. Não deixe de ler os pormenores da orgia promovida por um grupo de brasileiros, tendo a frente o sr. Guilherme da Silveira, o acusado no inquérito do Banco do Brasil.”

Em seu editorial no mesmo jornal, Carlos Lacerda, não perde tempo e critica duramente o que chamou de A Bacanal de Coberville. Atacou o pai dos pobres instigando alguém que tenha a coragem de questiona-lo de onde vieram os dólares e o câmbio necessário para torna-los viáveis para uso:

“O Pai dos Pobres não é capaz de explicar com que dólares foram custeados esses aviões especiais, essas cabaças e inúbias, esses pássaros tropicais, essa revoada de aventureiros e aventureiras que transportaram a Paris para participarem da dispendiosíssima bagunça no castelo de um novo rico. Quem forneceu o câmbio
?Foi câmbio oficial ou câmbio negro... Isso é que merece um inquérito. Vejamos se alguém tem coragem de perguntar, frontalmente, ao chefe do governo, quem autorizou a exportação desses dólares.”.

A reação de Getúlio ao ler A Tribuna: franze o cenho, olha para Wainer.

--- Hora de jogar pesado, Samuel, meu caro. É hora da cobra cuspir fogo. Acione seus contatos. Faça tudo o que tiver que fazer, mas limpe meu nome dessa porcaria toda que jogaram nas costas do meu governo e da minha família. Limpe o nome dos Vargas.

Wainer não se faz de rogado, no dia seguinte, em seu jornal, a última hora, num azul claro quase neón está noticiado: Fonte anônima desmente Lacerda e a Tribuna. Em nenhum momento o senhor Carlos Lacerda perguntou-me se meu chefe pagou pela festa, diz um dos secretários de Guilherme da Silveira, que não quis se identificar, segundo A Última Hora.

Em entrevista, a fonte anônima afirma que Lacerda lhe telefonara apenas para perguntar se o Silveira fora para Coberville o que ela confirmara.

Em seu editorial na Ùltima Hora, Wainer acusa Lacerda de ser um profissional que macula a ética jornalística e o desafia a provar que suas palavras não passam de injúrias, calúnias e difamações geradas mais por interesses políticos do que jornalísticos propriamente ditos.

Estes foram totalmente ignorados no Brasil, mas amplamente divulgados pela imprensa internacional, onde uma repórter do quilate de Jeannine Merlin afirma que ficou maravilhada com o algodão brasileiro em chez Fath, ou de outros jornais que enalteceram a indescritível beleza e primorosa qualidade dos nossos tecidos.

E foi por compreender a importância desse evento, o mais grandioso no mundo prêt-à-pôrter desde o pós guerra que a Primeira Dama do Brasil, dona Darcy Vargas, em pessoa prestou à delegação brasileira o prestígio de sua presença vestindo-se, ela própria , com tecido fabricado no Brasil.

O que Wainer não mencionava era que não existia fonte anônima nenhuma. Tudo era criação de sua mente prodigiosamente fértil.

SAMUEL WAINER

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