Vejo Vocês em Meus Sonhos



Vejo Vocês em Meus Sonhos

No dia 30 de Agosto de 2015, morreu o cineasta Wes Craven, diretor de vários filmes de horror, mas realmente famoso pelas franquias “A Hora do Pesadelo” e “Pânico”. Há biografias e análises muito melhores do que eu posso fazer em sites especializados (e muito bons), como Scarytorrent e Boca Do Inferno. Prefiro fazer uma homenagem ao criador de Freddy Krueger contando uma história sobre três amigos que um dia celebraram a vida assistindo um dos filmes do Freddy Krueger, não me lembro qual.
Éramos jovens, cdfs e ambiciosos interioranos. Havíamos vencido todos os desafios da adolescência. Bullyng? Qualé? Éramos chamados de turma do balão fantástico ou superamigos ou coisa que o valha, sofríamos com os eternos populares colegiais. Até que nos unimos. Sofrimento na Educação Física, nunca mais. Dávamos um jeito de estar sempre num mesmo time o “Lagoinha F. C.”. Fizemos um hino: “Se o Lagoinha não ganhar, olé, olé, olá, o pau vai quebraaaar...” Nunca ganhávamos, o pau sempre quebrava. Como era bom sair do jogo e ver os“populares” mancando quietinhos, com o rabo enfiado entre as pernas!
Continuamos a estudar em paz, mais e mais. Éramos respeitados - talvez admirados - pelos professores, arrumamos garotas, fizemos uma turma de excelentes e fiéis amigos. Éramos exemplares.
--- A Elite intelectual de “Triunfo da Serra”. – costumava dizer um de nós com uma boa dose de sarcasmo. Ao que retrucávamos em coro:
---- Imagine a escória!
Enfim queríamos ser alguém, deixar a nossa marca. E mais queríamos a melhor ferramenta pra isso. Como éramos todos cdfs, óbvio que optamos pelas melhores universidades. Passamos no vestibular com relativa facilidade, ficamos devidamente carecas e nos pirulitamos para conquistar o mundo. PQP. Como sabíamos pouco da vida....
Fui pra capital com mais dois grandes amigos formar uma república. Eu cursando Cinema, T. medicina e C. Direito. Éramos muito jovens, muito inocentes, muito simples, intensos e puros em nossas emoções, incapazes de sacar que havíamos deixado pra trás todas as nossas conquistas e nos tornarmos mais um no meio da multidão. E em nossas classes na faculdade, não fazíamos lá muito sucesso. Nossa educação havia nos preparado para passar no vestibular, não para a vida acadêmica. A náusea da derrota iminente pairava sobre nós. “A elite intelectual” nada mais era que um zero a esquerda. E muito infeliz.
Estávamos nessa vidinha, do apartamento pra faculdade e vice versa, quando um dia, ao sair do ônibus, vi um cinema com um dos “A Hora do Pesadelo” em cartaz. Vibrei. Tudo o que queria da vida era fazer filme de terror B. Ser o novo Zé do Caixão, vê se pode. Então tratei de usar todos os argumentos imagináveis e inimagináveis pra convencer T. e C. para ver o filme. Consegui. Nos mandamos pro cinema.
Naquele tempo não tinha os Cinemarks, Multiplex, IMax, digital surround da vida. A pipoca era comprada num pipoqueiro de rua que dividia o espaço com um pastor berrando que ver filme de terror era encontrar o capeta. Dentro do cinema era lúgubre e as cadeiras rangiam, não parava de tocar “Take my Breath Away”, o que já dava um bom clima prum terrorzinho.
Não me lembro de nada do filme. Mas a sensação que ele causou dura até hoje. Não foi uma imersão no filme, mas sim como se o filme entrasse em mim. Olhei pros lados e vi meus dois amigos como num espelho multifacetado. Havíamos emulado o filme dentro de nós. E metemos bordoada no Freddy. E o colocamos pra correr, cabrón de merda, na base do cacete de Jegue. E ele foi diminuindo, diminuindo, diminuindo...
E quando saímos do cinema, a capital também havia diminuído.
--- Se vencermos aqui. Venceremos em qualquer lugar do mundo – exultou C.
E naquela noite – que dure para sempre – nós vencemos. Vencemos Freddy, vencemos a capital, vencemos a porra do mundo todo, PQP!!!!
Graças a você Wes, que apareceu do nada para acender uma fogueira em nossa escuridão e nos contar histórias de ninar sobre como o medo diverte o medo para afastar o medo da gente. Naquela noite, graças a você, Wes, não houve pesadelos. Naquela noite, graças a você Wes, eu decidi lutar até o fim para sustentar meu sonho. E agora você foi embora e, com uma brasa do teu fogo, eu acendi esta velinha para iluminar as profundezas das nuvens internéticas. Não é muita coisa, eu sei. Mas é tudo o que tenho.
Então é isso. Wes, Turcão, Carias toda a turma do Lagoinha. Esse aqui é pra vocês. Caras continuem grandes! Vejo vocês em meus sonhos.



 

Comentários

  1. ESTOU EM EMOCIONADO COM AS LEMBRANÇAS...E O FILME DO EXORCISTA 3, LEMBRA , SAIMOS CORRENDO DO CINEMA MEIA NOITE...KKK

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  2. futebol no campinho balas tofano, e na chácara do camerote

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