INSÔNIA

Estou só em algum lugar árido e silencioso, um lugar de solo vitralizado e alaranjado. O sofá da sala de estar enraizados no chão acumulando pó. Meus sonhos. Uma porta aberta, entro. E outro mundo explode em minhas retinas. Uma piscina de águas azuis e cristalinas. Muita gente se divertindo em alaridos de felicidade. Vejo faces do passado, pessoas cujo nome não me lembro, mas que fizeram parte de minha adolescência.
Este outro ambiente é mais assustador. Sei que é irreal, as cores machucam meus olhos. As lembranças provocam rejeição. Sei que não é o que vivo atualmente. Rejeito o sonho num espasmo e volto a consciência.
01:30 da manhã. Totalmente desperto. E agora?
Não tento interpretar o sonho. Ele é óbvio demais. Quem não tem saudades de sua juventude, onde a liberdade é medida pela profusão de seus hormônios, o mundo um lugar para ser conquistado.
O que qualquer adulto vive hoje, comparado a sua juventude é um deserto, onde as dunas são contas, o calor, todos as necessidades e responsibilidades a ser suportadas, e os esqueletos que se encontra no caminho, túmulos de seus entes queridos e de sua própria inocência.
Não  permito a nostalgia. Não é benéfica.
Lembranças, bah! Se doces, acentuam a amargura do Presente.
Caso ácidas emulsionam o sal das
lágrimas nunca vertidas.

Então a insõnia! quatro chícaras de café forte,
A imbecilidade horrorosa dos telejornais, rá.
Selfie de macaco tem disputa por direitos autorais.
Novela global despencando em audiência
Como as pessoas fazem tim-tim em outros países.
E claro, a crise, as reclamações de sempre.
Pilares da madrugada despencando.
Coço o saco demoradamente. Desisti de ficar bem informado. Sim, sou um alienado e daí?
Pouco importa o rabo que esquenta o trono do governante, a voz do homem comum nunca é ouvida, já se dizia na idade média.
Conclui que ser bem informado é estar plenamente consciente de sua própria impotência.
Como todos vocês sou apenas um peão na imensa massa de manobra chamada povo brasileiro.
E cansei disto. Ignorance is bless.
Prefiro ler Ensaio sobre a Lucidez de Saramago.
Revelando o que se deve fazer quanto as eleições.
Votar em branco em massa, sem exceções.
Construir um sistema autosuficiente de “governo” para uma pequena comunidade – no caso uma cidade, onde qualquer autoridade, por menor que seja é um empecilho para harmonia.
Porque, na real, ninguém precisa ser governado.
Apenas viver em paz, num delírio insône.
Mas o clarão do alvorecer e o estridente piar dos passáros, avisam que os pilares da realidade voltaram a tona, como grades de uma prisão.