O Medo Sustentável do Curupira

Não acredito em Curupira bonzinho. Odiei as imagens da internet que busquei para criar o blog. Escolhi uma para dar medo. E agora vou tentar explicar porque.
Imagine que você é um grande desmatador, um explorador de madeira no meio da mata amazônica.
Você trouxe máquinas pesadas, operários, provisões e seus capatazes recrutaram mão de obra local barata (índios) com grande poder de persuasão (bala). Agora, depois de meses isolado no meio da selva abrindo esta enorme clareira em que se encontra, seu empreendimento tornou-se lucrativo.
E você, com um charuto no canto da boca e bebericando uma boa aguardente, já vai dormir sonhando com aquela vida de novela: mulheres, casa na praia, carrões. Dinheiro tilitando no caça níqueis da sua cachola. Uma gostosa cantiga de ninar.
Mas no dia seguinte as coisas começam a dar errado. As máquinas estão quebradas. Os fios foram arrancados, a lataria amassada, alavancas, volantes, pistões estão espalhados por todo o acampamento. A maioria dos índios fugiu para as matas. Os capatazes, aos berros, ordenam explicações para os que ficaram, mas eles estão horrorizados, incapazes de falar. Os operários estão confusos. O caos reina em sua clareira. Seus sonhos foram pro ralo. Mas você não tem dúvidas sobre o que aconteceu. Sabotagem. E agora quer sangue, muito sangue:
--- Parem de lenga-lenga e tratem de ir procurar os filhos da p. que me ferraram, cacete. Já pra mata, vamos. Hoje só sossego com índio estrebuchando na ponta do facão.
E lá vai você e sua turma pro meio da floresta. E toca a procurar os índios "sabotadores", aquela corja. E vão se metendo no fundo da mata.
E a mata vai se adensando, com sua umidade pesada, o cheiro pungente de terra, árvores, bichos e folhas mortas. E seus comandados sentem tudo isto mais as coisas que parecem se mover e não se movem e aquelas que não se movem, mas parecem se mover. Começam a imaginar um destino incerto e hostil.
Mas você, seu sonho morreu, sua grana foi pro espaço. E você é um cabra machão de cabelo nas ventas com desejo de  vingança. O sangue cobriu seus olhos. Cada passo seu parece berrar "Morte". Os golpes de facão com que abre seu caminho pela selva não cortam galhos, mas cabeças, braços, pernas dos "traidores".
Você segue pela mata exortando os seus com pragas, maldições, palavrões. Castiga os poucos que desejam voltar a segurança do acampamento com golpes de chapa de facão até os ver sem sentidos. E você os abandona. Em frente, sempre em frente.
Você é temido, mais que a selva. E assim sendo é seguido.
Vêm o urro:
ROSOSHHSOSOSASAARSSSRRRRRRRRRRRRHRH!!
 E outro. Mais outro. Altos. Muito altos. Muito próximo. Vindo de todos os lugares, de lugar nenhum. Os teus tremem nas bases. Mas você sorri:
--- Estão ouvindo, cambada?! São eles! Estamos quase lá. Os cagões sabem que estamos aqui e dão estes miados pra nos assustar. Mas aqui é tudo sacoroxo, é ou não é? Então... Chumbo neles!!!!
E você saca seu revolver e avança pela floresta atirando a torto e a direito.
Todos te seguem. E vocês se lançam pro fundo da mata berrando, atirando e brandindo lâminas. Mas não há ninguém, nem nada. Nem o urro há mais.
A tardinha a você e sua expedição encontram uma pequena clareira. Simplesmente desembocam nela. Do nada. 
Nela encontram uma trilha. E pegadas. O cansaço é grande, a noite se aproxima, mas o sangue lhe cobre novamente os olhos. Você pensa na grana perdida, na vida fácil que foi pro lixo. Você quer vingança, está obcecado por ela. E você empurra a todos prá dentro da trilha, fere alguns, até. Mas todos vão.
Seguem a trilha, mas ela desemboca na clareira. Esta revela nova trilha, e outra e outra e mais outra. O sol está se pondo, a expedição se divide. Cada grupo explora uma trilha. Apenas dois grupos voltam. Só encontraram o mesmo lugar. A clareira.
RRRoohhhhhaHHHAAAHHAHANNNNAHAHAHHHAOAAAKKKKKKK. O urro vêm com o cair da noite. 
--- KURUPI'R - gritam os índios, 
--- CURUPIRA - gritam os operários. 
E você não é mais temido. Você teme. E o seus seguidores debandam e lhe derrubam e lhe pisam e lhe arrancam os suprimentos. E a noite encontra você só.
E de repente vêm o brilho na selva, aqui e acolá e em todo o lugar, serpenteando pelo verde escuro que nem fogo fátuo. E você em transe, apavorado com aquilo, sem mexer um músculo. É quando vêm a voz em suas costas:

--- Tem fumo? Tem pinga? Num tem tá morto.

E você, borrando-se de medo do Protetor das Matas, vira-se e vê:




a-)
Um curupira bostinha com cara de cebolinha.









b-)  um curupira biscatão élfico












c-) um curupira bonitinho com olhar de bichinha safada.


















E você, desmatador, machão, durão, sanguinário e com sede de grana, e glória, rolaria de rir com qualquer uma destas simpáticas aparições. Depois, desfrutaria de uns momentos de prazer sádico abusando delas e ainda levaria o escalpo destas criaturas como prova que deu cabo do Curupira.
 E voltaria com pique pra desmatar a floresta mais e mais. Porque é isto que desmatadores fazem.
Quanto as imagens do Curupira do "conto", pelo amor de Deus! Dá pra proteger a mata com estes ícones de merda? Pois é mais ou menos uma amostra das imagens do Protetor das Matas que encontrei no imaginário brasuca. Ao menos segundo o Google.
Mas dê uma olhadinha como o Protetor da Mata é imaginado por nossos hermanos latinos do sul:



Cullachaqui

Invunche














Pombero






















Eu, se fosse a selva amazônica, ou qualquer outra mata, me sentiria muito mais protegido com estes caras. Com eles o final do "conto" seria outro e o desmatador acabaria bem mal.
O que há de errado com a gente prá desvirtuar tanto a imagem do curupira? É por ser política e ecologicamente correto, tipo todo ecológico é bonzinho então vamos fazer um curupira bonitinho? Porque se for... Ah, caralho. Vão lá pro Tamar catar ovos de tartaruga, pô. Deixem o Curupira em paz.

Comentários

  1. Lendo isso durante o expediente ao me deparar com as legendas seguida das imagens soltei uma gargalhada, onde todos pararam seus afazeres e olharam para mim com cara de... Que porra é essa !?

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    1. Obrigado pelas gargalhadas Yolle. Até hoje tento decifrar q porra é essa... kkk
      Desculpe responder tão tarde. Trampando muito e quase ninguém comenta. Obrigado do fundo do coração. é difícil fazer rir....

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Mande fumo pro Curupira

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