DOS DIÁRIOS DE BUKLOVSK, O VAMPIRO DO AMOR
Frànce, 18/5/1781
Escrevo estes diários para levar minha vida real aos leitores que, porventura, arriscarem-se, num futuro onde minha fama e poderes podem ser deturpados em atrocidades criminosas ou mesmo associadas à uma mitologia mais violenta, a ler e conhecer a natureza de meu estranho e prazeiroso poder.
Chamo-me Duque Elaiv Romuloff Buklovsk, Duque de Buklovsk. Moro em Paris, e, ao contrário do que falam dos demais vampiros, não mato. Crio amantes. Dependentes de meus carinhos e eu dos deles para não me tornar mais velho de que minha atual idade, onde cabelos longos outrora de um profundo negro, agora são brancos e necessitam de peruca. Mantenho o branco da barba longe, optando por um visual a lá romain. Descobri tarde que poderia manter o viço, mesmo avançado em anos.
Num gesto acidental, uma criada embaraçou-se em mim e foi ao chão. Involuntariamente ofereci ajuda estendendo-lhe a mão. Ela segurou minha mão, porém, tonta com a queda, caiu de quatro, atingindo com sua pequena cabeça minha virilidade. Deveria doer. Não doeu. Senti um grande prazer. Tão grande que fui obrigado a retribuir levantando-a delicadamente com as mãos por baixo dos tenros vales de seus seios. Senti o colo da jovem tremer. Sua boca tentou conter um gemido.
Quando do colo, sustentei-a pelos morros de seus quadris, abafou um grito.
Era prazer. Eu sentia. Ele me energizava.
Ela, jovem e inexperiente, atingiu o ápice.
Desfaleceu.
Senti-me décadas mais jovem.
E desde então não mais envelheci.
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Frànce: 21/5/1782
Hoje farei uma nova amante. Estou faminto e a ceia, tanto dela, quanto a minha está preparada.
Fomos vistos separados na ópera, porém, discretamente mascarado por meu binóculo de reluzente ouro, saí sem que ninguém percebesse deixando La Cavalleria Rusticana para trás, antes do último ato.
Tive tempo suficiente para fazer uma toilette adequada à situação e checar eu mesmo o menù preparado por meu chef pessoal: Saladas de envidias com foiè gras, enguias assadas a Bretáin, Mignon à Louis XV, prato essencial por estar presente em todas as mesas dignas desse nome em Paris, acompanhando tudo, os vinhos adequados para cada prato com um toque pessoal de taças de aguas termais para limpar os gostos e aromas da suave e carnuda boca de minha atual querida. E como le gran finàle: sorbet de rosas à la Alpin. Um sorvete notável por usar as neves brancas e puras dos Alpes.
Impossível que Lady Adriannè de Provénce Allours, esposa de um notável ministro, o conde de Allours, não fique arrepiada ao pensar na fuga noturna e tremendamente disposta ao prazer da ceia tão naturalmente sofisticada quanto a que preparei.
Estava nestes pensamentos agradáveis e hipnóticos que me envolviam num agradável transe quando fui interrompido por um criado anunciando Lady Beatrice de Provènce Allours, filha de Lady Adriannè.
Curioso, recebi-a em meu escritório. A noite estava fria, ofereci-lhe um conhaque que a pequena Lady aceitou com um sorriso malicioso. Talvez fosse jovem demais para a força do destilado dourado que sorvia delicadamente. Tossiu. Confessou-me ruborizada que aceitara o alcóol para aquecer-se com algo que lhe era proibido. O pouco conhaque que tomara subia-lhe à cabeça, o sangue fluindo e refluindo por seu corpo, conferindo um tom de alvorada rosácea em seu busto de jovem donzela.
Um terno prazer me sufocou com esse pensamento.
Um prazer que até então não sentira.
Mas que deveria controlar.
Lady Adriannè não tardaria e o que pensava estava além de uma criatura meramente humana, mas não dos desejos íntimos e proibidos que meu título e poder permitiam.
Deveria me controlar.
Tentei. Levei a jovem Lady para a mesa, ofereci-lhe café numa excelente xícara de porcelana chinesa, porém ela não conseguiu segura-la, deixando a delicada porcelana espatifar-se no chão.
Ela riu. Seus dentes eram perfeitamente dispostos e de uma alvura que lembrava a neve.
Então, despropositadamente, ofereci-lhe o sorbet alpino.
Para evitar novo incidente, servi-lhe eu mesmo da taça de prata germânica uma generosa porção do sorbet.
Ela olhando nos meus olhos com pureza infantil abocanhou a colher que sustentava em sua frente.
Uma pequena porção de sorbet deslizou da colher para o ruborizado queixo.
O que a fez tremer de comoção.
E, extraordinariamente, sabia que tal comoção produziu o calor que subia de sua intimidade.
As gotas de sorbet pingaram do queixo para o colo de Lady Beatrice.
O calor aumentou.
Ela suspirou.
Eu ataquei.
Beijei seu colo ruborizado com a devoção dos que beijam os picos dos montes sagrados.
Atrevi a deslizar minha boca sedenta pelas planícies que sugeriam sua imberbe toallete.
Mais ainda, ergui tal toallete e nela adentrei com beijos íntimos que provocaram suspiros e deleites a mim e a ela.
Beatrice, soltou um longo e suave gemido de prazer e rendeu-se à petit mors.
Foi quando senti algo errado.
Desembaracei-me do corpo desfalecido da jovem.
Lady Adriannè a tudo observava, com uma lasciva língua lambendo um sorriso devasso, enquanto sustinha aos olhos, o requintado monóculos de prata com lentes de diamante bávaras.
--- Bravo, a divertida lady gritou.
Postei-me a sua frente. Fiz-lhe uma reverência que soou mais cômica que respeitosa.
A dama riu.
Exigiu nova representação do que considerou um grande espetáculo.
Mas a Lady gostaria de ser atriz.
Nunca em minha curta vida de criador de amantes, deparei-me com tamanho desejo gozozo e com tal extravagância, quase um tabu.
Mas a maldição de minha singular condição era essa.
Meus amantes tornavam-se absolutamente dependentes de meus carinhos.
Porém, uma vez saciado, eu era um mortal comum. Um pobre aristocrata caminhando para a senilidade, mas ainda assim, com os ombros eretos e a aparência agradável.
E era desse senil amante que Lady Adriannè, cruelmente, exigia satisfação erótica.
Sem nenhum pudor, a Lady retirou a sofisticada toileette noturna e mostrou-se toda um sonho materializado em carne.
Suspirei agonizante.
Deveria manter, ao menos, a dignidade de minha posição de amante.
E com ela, fui ao meu amplo cômodo íntimo, onde ela, em mim, entrelaçou-se como se sua vida estivesse conectada com minha masculinidade.
Sua técnica era absolutamente profissional. Era difícil para mim, acreditar, que, naquele momento estava em pleno amor com uma sofisticada dama e não com uma burguesa deturpada, tanta era a intensidade de seus carinhos íntimos em regiões erógenas do meu corpo que desconhecia.
Deitou-se comigo durante toda a noite até satisfazer-se e desfalecer ao meu lado.
Bem a tempo.
Mais um pouco e teria o que mais temo quando estou na frágil e faminta condição humana.
Um mero ataque do coração que poria fim a minha jornada de sensível e generoso amor ao ser humano.


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Mande fumo pro Curupira