DO UNIVERSO DE WOM - A RANGER QUE NÃO PODIA CORRER.
Ela não podia andar.
Seu coração parara de bombear sangue para as pernas.
Agora só tinha forças para satisfazer seu cérebro e seus membros superiores.
Tinha 15 anos de idade.
Seu coração atrofiava à medida em que crescia.
Vítma de uma doença que a impedia de sentir a típica energia da adolescência.
Muito pelo contrário.
Sentia que esvanecia.
Com sorte chegaria aos 40.
Era realista e adaptara-se a sua curta perspectiva de vida.
Mas não às dificuldades de ser cadeirante.
Seu maior prazer desde criança era ir ao pequeno bosque de sua pequena cidade.
Ia ver os bichinhos.
Agora, não mais.
Amava os animais e, Meu Deus, como sentia falta deles.
Foi quando descobriu WoM.
E amou à primeira vista a classe do Ranger.
Era a primeira classe a ser enviada às missões em grupo.
O batedor.
Ele mapeava o território, descobria os monstros, abria trilhas.
Era uma classe extremamente rápida e o mecanismo do jogo simulava com realismo perfeito tanto, o voo sobre uma montaria, e CORRER.
E, melhor ainda, o Ranger usava os animais para o ajudar a descobrir NPCs escondidas.
E, caso não dispusesse de animais no momento, podia doma-los.
Ela transferiu todo afeto que tinha pelos animais reais, para os virtuais.
Nada lhe dava mais prazer do que correr nas planícies e planaltos e montanhas nevadas que os mapas ofereciam.
As vezes só corria, suas feras ao seu lado, não jogava.
Apenas correr. Sem nunca cansar.
Segura pelo carinho sem limites que, imaginava, as feras lhe davam.
Sabia que imaginava.
Era realista.
Mas não ligava.
Para que, afinal?
Curtia o que a realidade lhe oferecia.
E se só lhe restava imaginar, que fosse.
Enquanto pensava, corria, seus lobos ao lado, por uma extensa planície nevada.
Um, deles, raiado de cicatrizes azuis, uivou e parou.
“Um bug.”, ela pensou.
Deu o comando para a fera segui-la.
Nada.
Sem vontade de desconectar e conectar de novo.
Foi em direção ao animal.
Que, para sua perplexidade, começou a abanar a calda.
E latir.
Suavemente.
E seus olhos virtuais arregalaram-se.
O lobo avançou e num típico “abraço” canino lançou-se sobre ela.
Ela sorriu.
Mas já não sabia se sorria com seu corpo real ou se no mundo virtual.
Tudo se confundia.
Foi quando sentiu a neve derretendo-se em sua textura pixelada.
Estava sentada na cadeira ao mesmo tempo que sentia o carinho que fazia no animal virtual.
Foi quando tudo se apagou a sua volta.
Um súbito branco.
E estava dentro de WoM.
Seu universo particular.
Era a Ranger deitada na neve que não era fria.
Estava entre pixels montanhosos cobertos de neve.
Com seus animais prediletos lambendo-a toda.
Sorriu. Era realista. Aceitava o que a realidade lhe oferecia.
E caso fosse morar onde podia correr e ser acariciada pelas feras que amava...
O simples pensamento a fez gargalhar.
A vida era boa.
// CONDIÇÃO DE SAÍDA: LIBERDADE COMPLETA
STATUS_RANGER = 0x00_IMMERSION_PERFECTA;
LOOP_INFINITO: PAZ_EXISTENCIAL = TRUE;
// AVALIAÇÃO DE CONEXÃO COM O MUNDO FÍSICO (FAILURE_STATE)
IF VITAL_SIGNS.ANOMALIA > 0.99 THEN:
// ERRO CRÍTICO: UNIDADE FÍSICA INCAPAZ DE SUSTENTAR O ESTADO VIRTUAL
SYSTEM.REBOOT_CONDITION = FALSE;
SYSTEM.FINAL_ACTION = FREEZE_FRAME;
LOG_ERROR: "CORPO.POSITION: FAIL. FALLEN. CAUSE: EXHAUSTION_OF_REALITY"
// TRANSIÇÃO BRUSCA PARA ENTIDADE MÃE
ELSE (MOTHER_ENTITY.AWARENESS = TRUE):
ACTION_MOTHER.SEQUENCE = INICIAR_BUSCA;
PLAY AUDIO.SOUND_FX("GRITO_HUMANO");
Sua mãe foi ao seu quarto conduzi-la para ao almoço.
Encontrou-a caída, a cadeira jogada ao chão.
Sua mãe gritou.
Abraçou o corpo imóvel da filha.
Sua dor abrandou.
No rosto da filha havia um sorriso e um olhar brilhante.
E de alguma maneira, em seu coração de mãe, sentiu que a filha ainda vivia.
E era feliz.
Levantou o corpo da filha junto com a cadeira de rodas.
Nesse gesto ficou na frente de um monitor.
Em choque, viu o personagem que a filha amava.
Gritou.
O Ranger tinha o rosto da filha.
E lhe mandava um beijo, para virar e correr até sumir na planície nevada.
Em choque, mas com uma lágrima e um sorriso, a mãe retribuiu o beijo.



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