HACKER STALKER OU REVISITANDO FRANKENSTEIN

     

                                                                                                                                 HAKER STALKER

 

Luiz a espreita, sempre espreitou.

Primeiro nas beiradas das redes sociais, onde descobriu: ela, ingênua, deixava celular e endereço para os amigos no privado sem saber que lá, tudo pode ter olhos.

E nas doces teleguias dos privados das redes sociais, estava Luiz e seu código hacker, um dedo-duro que dizia com quem ela por lá conversava e o que por lá fazia sem Suzana saber.

Um Hacker stalker.

Luiz, apesar de íntimo de Suzana, sua única amiga, não tinha coragem de se declarar para ela. Por puro medo de estragar a amizade.

Sofria em silêncio. Fazia terapia para relacionar-se com outras pessoas, mas sua obsessão é maior que tudo. Só é menor que o talento estrondoso de Luiz para a informática e engenharia eletrônica.

Usando suas habilidades construiu uma inteligência artificial e nela inseriu sua consciência.

Luiz não sente nada quando está no étero-espaço – como batizou o O.S. de sua consciência artificial.

Porém, para tanto, Luiz encerrou-se em seu porão-oficina e não saiu mais de lá.

Seu único contato com conhecidos, família e trabalho, pois era engenheiro de informática free lancer: whats, telegrama, face, insta, etc...

Sentiu-se melhor isolado do que quando exposto ao convívio social.

Decidiu radicalizar sua experiência.

Não queria jamais voltar a sentir alguma coisa.

Os sentimentos eram a causa de todos os males do mundo, pois eram extremamente subjetivos e voltados para a satisfação de um único indivíduo.

Penso logo existo, já dizia Descartes.

E quanta verdade nessa afirmação...

A vida é feita de sentimentos, perene, única e frágil.

A existência, a somatória de todas as vidas, um feixe de madeira mais sólida, resistente, coletiva...

A vida sente a sobrevivência, a existência, a evolução.

E Luiz estava cansado de sobreviver ao eterno chiaro-escuro do amor de Suzana, sempre imersa em seu sucesso social, sem tempo para ele e seu amor.

Impossível mudar isso.

Então ele mudaria.

Cessaria todo o sentimento que definia sua vida.

Evoluiria.

E construiu um corpo mecânico de fibra de titânio com liga de carbono. Forte e flexível para abrigar uma consciência sem sentimentos.

Ligou-se ao robô.

Abandonou seu corpo.

Pereceu.

Renasceu num oceano de dados, flutuando em significados antes inacessíveis a sua mente.

Deslumbrou-se friamente enquanto ordenava toda a linguagem binária e líquida a que estava inserido.

Como um mergulhador gira uma válvula, ele lentamente, tornava os sistemas online.

Padrões de luzes piscaram felizes ao seu redor indicando que tudo estava ok.

Deu um passo.

O robô movimentou-se delicadamente para fora de seu casulo.

Por hábito, sua consciência acessou o link neural de Suzana.

Ela estava casando.

Ele não pode acreditar.

Surpreendeu-se duplamente.

Pela notícia e por estar consciente de algo semelhante a uma dor.

Algo que não podia definir mais doía de maneira indefinida, vaga, mas grave e constante.

Como uma dor fantasma.

Seus sentimentos o assombravam.

Não conseguiu sentir cíumes.

Sua consciência simplesmente era incapaz de processar tal fato.

E o confortável oceano que flutuava virou o inferno que queimou definitivamente tanto sua consciência quanto sua alma.

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