A MORTE PERTENCE AOS FILHOS DA PUTA

Para Jorge de Sena.

Revisto e ampliado.

         

 

 

                                                                            Mexican Death Goddess

Você e eu não temos direito à morte, irmão.

Porque os filhos da puta não se esqueceram de nós.

Eles rasgaram nossas esperanças, moldaram nossos sonhos mais felizes.

E nos socaram pesadelos e desesperos

Cú acima.

Corromperam o caos da criação, a ordem do equilíbrio, a potência que poderíamos ser, mas que, agora jamais seremos.

Pois gastamos nossos ideais no supermercado com

As fraldas dos nossos filhos,

Com o arroz,

Com o feijão,

Com a pouca mistura que o suor pode comprar.

Afinal, que escolha temos?

Eles sabem que corotes de pinga vertidos em loucas risadas, carne barata estalando na brasa, e carros trocados de 10 em 10 anos é todo torpor que precisamos.

Pois sequer anestesistas nos dão.

E assim restauramos nossas forças para mais um dia

24 horas a mais

Neste sempre mesmo e mesmo sempre dia.

Tudo em fast-forward, rápido, grave, constante

Desgosto, dor e desgraça.

A vida como um parto natimorto.

Mas não, a morte não é uma opção.

Os filhos da puta sabem como te manter vivo

Estão aí os crediárioS fáceis,

as casas em comodato, os vales alimentações, os cartões de consumo em 360 graus, os mirrados bônus dos trabalhadores.

Tudo meticulosamente calculado

Para esta vida de cães sem dono,

ou de donos sádicos.

Tanto faz.

Antes morrer, você me diz, Jorge de Sena…

Mas os filhos da puta deram um golpe de estado na morte.

E viramos zumbis

Lentamente circulando pelos shopping centers

E comendo os ossos que os açougueiros jogam aos canibais do George Romero.

Não vivemos mais Jorge…

Mas morrer não é uma opção.

Porque a morte pertence aos Filhos da Puta.

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