AS CRÔNICAS FANTÁSTICAS DO IMPÉRIO ALMEIDA–VIGILANTE



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O Dr. A. movia-se procurando as sombras, escapando da luz. Assim observou demoradamente o neon e os anúncios de fast food holográficos do Beco do Fim do Mundo. Era lá que O Dr. A. esperava encontrar sua presa.
O Beco do Fim do Mundo, onde garotas com shorts apertados e cinto de castidade de silicone com formato de pênis rebolavam ao som das elipses do visualfunkpsicodélico dos garotões de terno cuidadosamente esfarrapado com carros com propulsão sônica. Area de rachas onde dragqueens nuas encarregavam-se de dar a bandeirada. Fora dos carros, neoguangues étnicas bebiam e se digladiavam em brigas imbecis com armas como murros ingleses elétricos e canivetes retrô. Pouco mais do que adolescentes. Pouco menos que 30. Jovens. Alguns transando nos becos escuros, quase ao lado dele. Nessas horas o Alessandro tremia de inveja e medo de seu futuro. Então focava-se em sua personalidade.
Não desperdiçara sua mocidade, construíra maquinas, inovara, trabalhara, produzira. O ócio e o ópio eram seus inimigos.
“Mas, estes ociosos de merda....”
Todos se drogavam. O ópio tornara-se sua vida.
Mas o Dr. A. estava pouco se lixando pro que faziam as neoguangues. Peixes pequenos que seriam esquecidos para morrer na praia na maré alta.
Estava atrás de quem fornecia a droga. O Tubarão, segundo ouviu nas ruas. Onde há drogas há traficantes, pensou. E a sua estreia não podia dar em nada. Sentou-se e esperou.
No falso amanhecer um rugido de motor agudo cortou um silêncio momentâneo, como se todos estivessem esperando aquele som naquele exato momento.
O fornecedor chegava com mais energia, alegria e insanidade, o veneno desta noite. O antídoto era ele. Dr. A. ao sue indispor – pensava Alessandro.
Quando o motor parou, um garoto de uns 19 anos pulou de uma light moto totalmente tunada. Cabelos pretos, olhos frios e um sorriso impressionante.
Afiara seus dentes e implantara novas arcadas dentárias menores de esmalte de titânio feitas ao redor da principal. Formavam uma elipse ao redor de sua garganta. Tinha o sorriso exato de um tubarão. E sua mordida era dilaceradora. Arrancava ossos e carne e cuspia. Mordia de novo. Ossos e carne voavam de sua boca. E nova mordida. Até satisfazer sua fome de sangue. Seu método predileto para matar inimigos.
Testado e aprovado nos sem-teto. Fora escutando as conversas esparsas dos sem teto que Alessandro soubera do Tubarão. E do Beco do Fim do Mundo.
E aqui estamos nós, pensava o Dr. A. enquanto movia-se pelas sombras em movimentos rápidos e inumanos.
Mas aproximou-se pouco. Tão sincronizado como começou, o silêncio quebrou-se e as neoguangues ficaram loucas.
--- Tubarão, vê aqui.
--- Aqui Tubarão.
--- Tubarão, olha eu aqui.
O traficante sorria, a dentadura horrorosa se projetando da boca, enquanto abria o bagageiro transdimensional de sua moto. Do portal ia tirando sua “mercadoria” e atendendo os clientes. Metanfetamina bio modificada com DMT. Sua especialidade.
Uma fila formou-se sob a luz de néon dos hologramas do Beco do Fim do Mundo.
O Dr. A. teve apenas que esperar ser atendido.
Então simplesmente pressionou os bastões, acionou as lâminas e as sacou já golpeando a garganta de Tubarão com as duas espadas. O fio atingiu em cheio o pescoço de Tubarão num corte duplo. O homem foi decepado. Sua cabeça lançada longe pelo impulso do golpe. O sangue jorrou da artéria principal quase na vertical.
A fila dissolveu-se em gritos. Carros e motos envenenados foram acionados. Furor de motores apavorados cruzaram o sol nascente. A alvorada despontou sanguínea.
E sua luz flagrou um velho satisfeito consigo mesmo. Nenhuma gota de sangue o atingira. O golpe fora perfeito. Satisfeito, olhou para a vítima. Jamais morderia ninguém novamente.
Neste instante viu a chave da light moto pendurada no cinto do morto. Olhou para a moto. O capacete estava no banco, convidativo. “Nada mal”. Abaixou-se pegou a chaves, ligou a moto.
A manhã encontrou-o pilotando a moto em disparada.
O que a luz não podia ver era que, dentro do capacete, Alessandro, passado o delírio de violência, ria e chorava sem mais saber se era ele ou o Dr. A. responsável por seus atos. Qual deles tinha as lágrimas e qual tinha o riso?
“Os dois, nenhum dos dois. Todos nós, os Almeida somos psicóticos. Todos somos assim. E nos orgulhamos disso. Foda-se o resto”.
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