AS CRÔNICAS FANTÁSTICAS DO IMPÉRIO ALMEIDA–A FISIOTERAPIA DO DR. A.

pain_by_dmalkav
DOR! Fisioterapia o caralho. Palavra complexa: exige diploma, persistência, resistência, tutano, preparo físico e mental. Para suportar a DOR, no fim, todo esse algoritmo significando nada mais nada menos que DOR.
Muita.
A cada passo, a cada lembrança de seu último instante jovem, a imagem do pai, sua tosse, o velho sinal para a segurança agir. A picada da anestesia, a compreensão, o horror, o escuro. Os homens estavam infiltrados, óbvio, na start-up que Alessandro trabalhava anonimamente. Que paz, então. Agora.. a DOR!!!
Fisioterapia. Lembranças e DOR . Estalar de ossos em metal orgânico com liga carbônica. Flexível, mas travando nas artroses e outras diabrites cruéis da senilidade. Afonso as tinha todas. E Alessandro, tinha-as agora. Todas elas. DOR!
Picadas cruéis inserindo fogo nos ossos, lava invertida percorrendo seus nervos pelas suas fibras, crucificando neurônicos até apunhalar o cérebro com uma granada luminosa de
DOR!!! DOR!!! DOR!!! DOR!!! DOR!!! DOR!!! DOR!!! DOR!!! DOR!!! DOR!!! DOR!!! DOR!!!
E Alessandro caiu exausto no tatame do estúdio de Fisioterapia...
Mas à dor física somava-se um sentimento bom, de poder provocado pelos nanorobôs de Musk II. Algo que Alessandro sentia como um animal desconhecido, predador, inteligente, imaterial, que se escondia nas sombras de seu espírito, tateava-as, um tentáculo negro sondando os tons mais profundos da escuridão profunda de um ser humano. E alimentando-se ás fartas da DOR!!! de Alessandro. Crescendo, Dormindo, Comendo, Pensando...
E Alessandro tinha mais dores para oferecer involuntariamente à criatura. Dores suas, as de um jovem crescendo em vigor em força aprisionado num corpo decrépito cuja masculinidade, rigidez e funcionalidade estavam muito além do alcance de Viagras. Algo, disseram os médicos Almeida, além da ciência. Balançaram a cabeça. Não há tecnologia, Afonso, responderam.
--- E, caso queira mais filhos, Afonso, há outros meios... Mas não há tecnologia para garantir a sua reprodução sexual.
Que audácia da filombeta. Puta intimidade inconveniente. Não era ele o Dr. A – mentalmente o animal sorriu: Segundo. E o disparate, a desculpa sempre seguida e obedecida de não haver tecnologia. Pois crie, então, porra!. Medicina Avançada Almeida Tec. Com. Era o que para esse babaca, cacete? Um nominho pruma gorda aposentadoria. Eles que se fodessem. E já:
--- Caiam fora! O RH entra em contato. Saiam deste prédio, o mais rápido possível, por favor!
Alessandro, voltava a cadeira de rodas quando percebeu que os médicos se entreolhavam atônitos. Parou, voltou. Já era mais do que hora de radicalizar um departamento, adapta-lo para seus interesses, protege-lo sob o silêncio anônimo e confidencial de pesquisa científica de interesse governamental. O que deveria acontecer em 2 minutos. Tempo suficiente para o que tinha a dizer.
--- Não entenderam, senhores? Explico: não quero olhar nunca mais para o rosto dos senhores, para isto precisei demiti-los. Uma vez demitidos, os senhores caem fora da minha frente, saem da minha propriedade e nosso rh entra em contato com a gorda aposentadoria que os senhores tem o direito. Por favor, retirem-se.
Os médicos agem como se fossem um só, diante da violência das palavras de Alessandro e esboçam reagir inconformados.
Dois minutos passaram-se. A tela do holofone instalado na cadeira de rodas de Alessandro pisca em código, confirmando o acordo milionário com o governo. O projeto ia para frente. Coitados destes merdas. A era deles acabou e antes eles do que eu.
Alessandro aguça o olhar. Mesmo da cadeira de rodas, de baixo para cima, os olhos são os do pai, que são iguais aos seus. Ambos se potencializam, tornam-se hipnóticos. Iceberg e Navalha queimam nos olhos dos médicos. Eles recuam.
Alessandro os observa. Os corpos são velhos, sim, como o dele, mas as mentes, eram piores, eram poças de lama estagnada. Nada de novo sairia dali. Então o que ele estava fazendo no melhor departamento de pesquisa Almeida? Bye-bye, doutores.
--- Vocês me acompanham há décadas, já viram o sinal, não viram? Já me viram tossir? Querem que eu tussa, minha garganta está coçando... Dá uma coceira danada ver vocês aí parados... Vamos fazer o seguinte, deixem comigo mesmo os jalecos dos senhores e se mandem, escafedam-se, sumam, senão... que coceira, meu Deus! Se pudesse, eu mesmo chutaria a bunda covarde e incompetente de vocês até a rua, seus merdas. Não quero filhos, imbecis. Quero tesão, paixão, coragem. Coisa que não vejo nestes olhos de peixe morto de vocês. Pois que cheirem mal em outro lugar, não em meu império. Jalecos. Agora.
Jalecos acumulam-se no colo de Alessandro. Os médicos saem apressados mas resmungando alto. Porém não alto o suficiente para encobrir o ressoar em doppler da gargalhada de Alessandro.
A noite em seu quarto, fingiu que tomou analgésicos. Queria conversar com a DOR! Com a besta fera nanorobótica implantada em seu cérebro e programada para fundir-se com a personalidade de Alessandro. E a DOR! foi gentil. Respondeu com raiva e explosões de comando nervosos concentrados direcionados diretamente ao seus implantes biohackers.
Fibras de carbono tornaram-se mais acessíveis aos comandos mentais de Alessandro, estalando a medida em que ele movia seus membros na cama. Com raiva. Com paixão. Com DOR!.
Mas seus membros moviam-se... todo o dia um pouco mais. Aprendendo a desfalecer seu espírito na DOR! Deixando comando químicos pré especificados numa distante dimensão do futuro tomarem conta de si. Até que o fisioterapeuta, espantado com o progresso do Dr. A. não teve outro remédio a não ser dar sua reabilitação plena. A fisioterapia navia acabado.
E a A DOR! ficou satisfeita de Alessandro. E queria mais DOR!
Mas não a dele...


     hope_by_gnusi































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