AS CRÔNICAS FANTÁSTICAS DO IMPÉRIO ALMEIDA–QUANDO NASCE UM VIGILANTE–I

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Pois Alessandro estava exaurido. Só conseguia pensar no que fazer quanto ao sexo. Não somente em relação ao ato, mas e o Amor? Como amaria uma mulher? Como entraria no seu âmago e falaria tudo o que as palavras não conseguem dizer? E como uma mulher o amaria, preso nesse corpo tão débil e ancião? As mulheres que cercavam o pai não o amavam, amavam a riqueza, as melhores o poder. Nunca quisera isso para si.

Essa dor o consumia e nem os nanorobôs podiam fazer nada a respeito.

Mas podiam manipular a raiva de Alessandro, fundi-la com a dor física para dar-lhe uma compensação a sua impotência. A violência. Absorver a dor física provocada por Alessandro em outra pessoa pareceu satisfatório à Inteligência Artificial que os comandava. Ela tinha suas diretrizes primárias e secundárias moldadas segundo os interesses de Musk II. Algo no passado devia ser aniquilado e Alessandro era a arma. Veremos mais tarde.

E foi com um sorriso de raiva no rosto que Alessandro deixou o complexo de Medicina Avançada Almeida rumo a sua casa, finalmente.

Foi levado a Casa Almeida, residência oficial do antigo dr. A. Alessandro não gostou. Nunca se dera bem naquela casa, construída para parecer gigantesca e, pior, por dentro era maior ainda. Nuca conseguira preencher com sua personalidade sequer seu quarto, quanto mais a imensidão dos corredores vazios da Casa. Precisaria dar um jeito nisso. Fazer dessa casa a sua casa, um lugar seu, secreto devido a toda a bizarrice da farsa que o pai o obrigara a representar. Mas, definitivamente seu. Onde pudesse lembrar quem era e seu propósito.

--- E qual o seu propósito, Alessandro?

Disse de si para si, quase sem o perceber. Estava pensando de maneira correta quanto a necessidade de reformar a Casa Almeida, mas com que propósito. Iniciara o pensamento imaginando um ambiente típico de um jovem bem sucedido de 25 anos. Coisa que não era mais. E então...

DOR!

     DOR!

          DOR!

       DOR!

Insuportável. Alessandro perde a consciência.

Raiva e ódio. Isso sim. A DOR! lhe cobrava ação. Penetrava nos recônditos mais negros da alma de Alessandro. Comandava suas pernas para fora da cadeira de rodas, fazia suas mãos alcançarem o atiçador de fogo deixado na lareira.

Porém, a destruição dos móveis, os golpes desferidos contra retratos, paredes, portas, e os berros de ódio e desespero que se ouviram na Casa Almeida durante toda a madrugada foram Alessandro, segundo seu próprio e perturbado arbítrio.

Os criados da Casa encontraram seu patrão caído no chão, e, enquanto espantavam-se olhando e absorvendo toda a destruição da noite passada, ouviram um fiapo de voz.

--- Essa casa será inteiramente reformulada... e já comecei ontem.

“Mas não de verdade. Só quem merece violência é gente. Gente má.”

Alessandro riu-se do pensamento. Dar pancada e deter gente, má, criminosos, bandidos, todos os sacanas da miséria humana. Poderia, sim poderia. Queria, na verdade – uma solução que agradaria bastante os nanorobôs também - Sempre gostara de artes marciais e sabia algumas. Mas um vigilante velho lhe parecia ridículo.

A não ser que agisse sem que ninguém o visse, como se fosse uma sombra movendo-se livremente pela noite e agindo no instante preciso para, num golpe, eliminar sua vítima.

Com este pensamento, a raiva passou. Olhou em volta, estava longe da cadeira de rodas. Levantou-se, não precisava mais dela. Mas sentou-se na cadeira mesmo assim. A farsa precisava ser mantida. E ele precisava de um refúgio e uma base de ação. Pois tentaria ser um vigilante, afinal de contas. Estava seguro que conseguiria, tinha o maior superpoder do mundo. Era absurdamente rico.

E a violência pareceu um orgasmo estalando sob seus lábios.

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