2017– SOB O DOMÍNIO DE ELON MUSK II–PRELÚDIO A 2047

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--- Jonas, Jonas, Jonas!

--- Droga.

--- Jonas, Jonas, Jonas!

--- Vc não me disse que tinha filhos.

--- Não e meu, é do patrão.

--- Jonas, Jonas, Jonas!

--- Vc não me disse que tinha patrão.

--- Mas tenho, de quem vc acha que é o Roadster?

--- Vc disse que era teu!

--- Droga, quem vc acha que é meu patrão, digo mostrando o logotipo da Tesla Motors para ela. Depois olho pra ela, toda bela e confusa. Meu deus, que paixão.

--- Keka, né?

--- Jonas, jonas, jonas.

--- Gostava mais qdo vc estava me chamando de yodinha...

--- Tenho que ir, Keka- digo-me e levanto, alcançando a bengala. Estou de babá do filho do patrão hoje – casco-lhe um beijo no piercing da boca e me vou, no solavanco da artrose, em direção aos berros do menino, perdido no meio do gramado do clube

O garoto chega finalmente, me enlaça as pernas, o único olho envolto em lágrimas. O outro, um olho mecânico ciborgue, não chora. Na verdade, provoca as lágrimas, pois o tecido vive rejeitando o chip biosintetizado de nanocarbono. Seu, pai, meu patrão, no entanto, parece não ver isto. Gosto de meu patrão. Eu me voluntariei por ele. Um visionário. Como era aos 20 anos, como poderia ter sido se não tomasse um daqueles desvios invisíveis que nos levam a viver uma vida que não nos era devida, em passos firmes levando-me a lugar nenhum.

Porém, agora, o menino de um olho só chorão agarrado nas minhas pernas, ele me parece o pior dos homens. Afinal, quem poderia ignorar o silêncio do próprio filho. Um filho tão parecido com ele mesmo que doía n’alma. Um crime, sim senhor. Mas não competia a mim julgar, apenas conduzir o Tesla Roadstar para onde seu legítimo dono me mandasse ir. Afinal, se perdesse esse emprego, voltaria a ser mais um brasileiro ilegal na America de Trump, com extradição certa assim que não tivesse nada para fazer em solo americano.

--- Pode parar de chorar, Jr... para carinha, não adianta ficar assim... secava as lágrimas, mas não adiantava. O outro olho, o biônico, já estava ficando sem a umidade natural que tanto alardeavam os bionanotecnológos americanos. Seco pra caralho. Preocupante.

Então o menino foi tomado por convulsões, seu corpo caiu no gramado trêmulo. O olho mecânico começou a ficar rosa. Depois gotejar sangue.

Foi o que bastou. Saquei o celular, disquei pro hospital privado de meu patrão, o muskcare e notifiquei o fato conforme o protocolo, já preparando a operação de contrarejeição.

Corri ate o roadstar e acionei os motores elétricos. Acionei o modo autônomo. O carro voou em direção ao garoto. Nem parei, simplesmente agarrei o garoto com a bengala e segurei o tranco na prótese hellstill fornecida com o premio igualificação do ano para pessoas com deficiência física por falta de membro.

A hell of a leg, se me permite dizer isso rurorarara.

Aguentou o tranco a bichona e trouxe o garoto pra dentro do carro com a bengala. Fechei as portas, acionei o modo antigravidade e enfiei o garoto no vácuo formado no banco de trás que transformou-se numa espécie de simulador de espaço espacial. Lá, a infecção pelo menos estaria contida até chegarmos ao hospital.

Foi num pulinho. O pai já estava lá. O cabelo e terno impecáveis de sempre emoldurando aquela cara de anjo maluco dele. Meu salvador. Nunca faltou nada lá em casa graças aquele camarada visionário. Mas um cara estranho que na nóia de dar um olho de volta pro filho confundiu tudo, obcecou-se com o olho ciborgue e desprezou o filho, um pai de arrancar sangue do filho, que vc quer que eu diga mais?

Não me contive:]

-- Man, the kid is your san. Show him some love for crist sike.

-- He’s not my son, Jonas.

Gelei.

--- He’s my clone!

--- !?

--- Never talk to me like that, and be quiet about all this wold you? Your pocket will be happy till the rest of yours days, i promessa. You Never will be worried with te imigration again, i promessa. I trust you, Jonas, you are a good man and a cool guy, can i keep trusting you, my friend, do we have a deal. Never talk this with anyone, ok. Are we ok?

--- are we ok?!

--- Yes we are!

--- ok.

O diabo compra sua alma com palavras de gentileza.

E promessas mais gentis ainda.

Eu, Jonas, aqui em 2047, olhando para 2017, babá de meu próprio carrasco, enquanto meus pulmões lançados por cima dos meus ombros cinza se tornam, as costelas gemem canções estranhas entoadas com gotas de sangue e serrilhados ossos gritam sua dor aos deuses do calcário branco.

O espaço de vácuos e silêncio, vazios de nada e tudo de Saturno, essa leve gravidade furta-dimensões, Heisenberg-Einstein, Schondinger nada, o gato dentro da caixa sou eu.

Física quântica em maldita queda livre

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GATO DE SCHONDINGER

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