O ÚLTIMO PACTO IV–QUERO RIR OU QUERO GOZAR. SOU HOMEM E BRASILEIRO PORRA!

 

 

 

 

Pleasure Painting by Nymphainna AB | Saatchi Art

 

Jacques, 05 anos depois do encontro com a misteriosa entidade, era outro.

Seu coração, pulsava forte, os músculos, como por milagre, retornaram. A flacidez, a falta de fôlego, a taquicardia, as artrites, artroses, todas as doenças da decrepitude; essas dores crônicas, graves e constantes, abandonaram-no da noite para o dia.

Tinha 72 anos. Aparentava 40. Estava em plena forma para cumprir sua missão.

A primeira coisa que fez, foi criar um bordão que expressasse todo o ódio mascarado q sua missão exigia.

Jacques pensou: Rir ou gozar. Todo brasileiro gosta. As mulheres, os fudidos, as minorias, sempre alvo de risos ou porradas.

Então tome porra para expressar a masculinidade venenosa que ele tanto admirava. E ficou o bordão:

“Quero rir ou quero gozar. Sou homem e brasileiro, porra!” 

Era um chamado para a adolescência livre e cheia de hormônios dos machos brasileiros, onde tudo era gozo e riso, independente de sexo.

A juventude masculina sabe à liberdade. A maturidade à prisão.

Jovens vão onde bem entenderem quando quiserem, adultos onde precisam ir.

Ou pagam muito caro para ir onde querem se divertir. Ou são arrastados a pagar muito caro por quem se ama.

Jacques chegou à conclusão que homens adultos fracos são por natureza, prisioneiros de suas fragilidades e se entregam à uma mulher mais forte.

Uma prisão inconsciente.

Uma loucura.

Que homem resistiria à um bordão como esse, forte, livre, machista e sonoro?

Riu alto. Sabia a resposta.

Nenhum.

Pelo menos não de seu público alvo.

Homens.

Homens fracos.

Fraquíssimos.

Perdidos na decadência dessa civilização branca, familiar e hierárquica em que fomos lançados.

Sem saberem para onde ir e nem para quem apelar, deixavam-se guiar por outro alguém mais forte.

Sentiam-se seguros, fortes, plenos, ao lado do alguém que se diz amado.

Jacques queria esse público.

De uma coisa discordava da entidade.

Não teria sucesso com as mulheres.

Não com todo o veneno que escondia em coisas como um simples bordão.

Há mais, mas não é hora ainda, calma, chegaremos lá.

Para seu espanto, tinha admiradoras, fãs, mulheres loucas por ele. Muitíssimas. Como nunca teve antes na vida.

A entidade fora generosa com ele.

Deixara-o mais cheio de encanto, charme e energia sexual do que nunca.

Mas, de seu gosto diversificado, só restara exigir que, a cada dia, Jacques, mudasse a raça e a cor da pele de suas amantes.Nunca a mesma, nunca com a mesmo tom de pele da noite passada. Nisso continuava o mesmo.

Tornara-se hetero de vez. “Cis, como se diz hoje”, pensava.

E Jacques ria ao chegar ao orgasmo.

Como o bom brasileiro filho da puta que era…

Ria e gozava.

 

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