O ÚLTIMO PACTO III–O CONTRATO

A pergunta no ar.
Qual o preço certo?
Ele a fez para ela.
Ela torceu o nariz:
--- Você já viu coisa mais estúpida que o amor, a amizade, a compaixão? Detestável. Leva sempre a destruição do que mais gosto de me alimentar. O ego humano. E quero mais egos para devorar. E você vai me fornece-los. Justamente ensinando as pessoas a odiar o amor. Quer coisa melhor? Para mim e para você, que nunca foi de muito amar, não é mesmo, Jaqcques?
Não nunca fora.
Para falar a verdade, gostava de possuir alguém. Jacques tinha uma verdadeira obssessão pela diversidade. Fingia ser um entusiasta, mas era algo próximo de um tarado. Queria Ter a pessoa. Qualquer um. Era apenas mais um número na sua vasta planilha de posses. Mas amar alguém… Nunca.
Jacues exigia submissão do ser obtido, que encarasse a ele como se encara a onipotência de uma Verdade feita de carne. Contraria-lo era iniciar uma briga.
Não nunca amara. Era vaidoso demais para isso. Amava seu ego. E amava fazer as pessoas amarem seu ego para depois possui-las, não sexualmente, mas como se fossem algo moldável, tivessem a propriedade de se tornar o que ele estava desejando naquele momento. E seu gosto era eclético. Uma noite, um caucasiano. Outra, uma afrodescendente. No dia seguinte um bissesual, em outro um ou uma indígena.
Havia sempre um jogo de poder e magia negra em suas relações.
Ele sabia, através do sexo, alimentar-se da energia pessoal de seu parceiro ou parceira. Para ele, o drama humano era apenas um prato goumert. Genêro e raça, meros ingredientes para um outro fim, mais místico e negro do que o simples sexo.
Jaqueces gostava de invocar entidades inomináveis durante o orgasmo.
A súcubo postava-se ao seu lado e os dois fartavam-se das energias supremas liberadas no auge do prazer.
O drama humano, o sofrimento e o prazer de uma pessoa escorrendo pelo seu orgasmo e alimentando o humano e a entidade. Os dois adquiriam um estranho brilho negro nessa hora. Lilith esvanecia-se. Jacques, vestia sua roupa e fumava um cigarro, cheio de energia. Seus parceiros, nas muitas vezes em que Jacques realizou esse bizarro ritual, raramente sobreviviam mais que um dia.
O mais próximo de amar, quando Jacques envolvia-se emocionalmente, eram pouco mais que uma ferramenta útil, sempre ao alcance das mãos quando precisasse usa-la ou simplesmente ostenta-la.
Sempre fora um homem que gostava de exibir suas posses.
E seus relacionamentos eram apenas uma posse. Mal sabiam, os falsos amores de Jacques, a sorte que tinham em ter passado tempo junto dele e sobreviverem. Mas, apesar de ter tido poucos relacionamentos estáveis, todos apresentavam severos traumas psicológicos e tendências altamente depressivas. Um deles morreu. Suicidou-se.
--- Sim, sim, você é o agente ideal. O agente do des-amor. Terá fama, admiradores e admiradoras, saberá desarmar seus adversários, e o melhor do pacote. Sua morte não será morrida nem matada. Não olhe para mim. Nem eu sei porque. Apenas digo como será. Você topa.
Ele nem pisca.
--- Sim.
Ela o beija.
Aqueles dentinhos canibais arranham seus lábios, tiram lascas de seus dentes, sangram sua língua, mas ele prossegue. Inevitável. Dela, daquela mente maliciosa e odiosa, partem núcleos de conhecimento. Retórica, Sofismas, Teorias da Conspiração. Muita misoginia. E o ódio ao ser humano que lacrava o pacote.
Antes do beijo terminar, ele já estava novamente solitário no quarto.
Mas, nas paredes, palavras sombrias disfarçavam-se de positividade.
Uma cartolina pregada com fita crepe acima delas exibia uma caligrafia toda borrada, mas perfeitamente legível:
“Que tal um Coach? Como des-amar seu bem querer. Você ficaria rico e eu satisfeita. Apenas uma ideia…k PS: não esqueça de usar a Bíblia e o moralismo escroto do Levítico. Isso é uma condição. Bjs fui”
Ele achou uma ótima ideia. Sentia-se invencível. Aquela criatura estranha, poderosa e perigosa havia dado um jeito de enganar sua morte. O que ele poderia temer. Nada.
Arrastou, feliz, uma mesa abaixo das palavras.
Muniu-se de papel caneta e notebook.
Começou a trabalhar com um sorriso que lembrava a entidade que o contratara…


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Mande fumo pro Curupira