IRREMEDIAVELMENTE PERDIDO






I

Irremediavelmente perdido, lá vou eu.

Destrinchado tudo o que não quero ver

Vou-me cego. Vou-me fingindo

Mas são referências humanas as paredes deste labirinto

e cego, porém não ignorante,

Sinto de os movimentos de sua ruína e

a angústia das inocentes assombrações
gemendo risos surdos pelas esquinas da alma

Vou-me cego e consciente,

morcego em busca da fruta não encontrada.



II

E me vou, vou-me, lá vou eu.

Para lugar nenhum, rodando, rodando

Sempre no automático mesmo caminho.

Descida, direita, esquerda, descida, subida.

Mercado, banco, contas.

Subida, esquerda, direita, subida.

Casa

Consciência de que o prazer da chegada

Reflete apenas alívio,

de uma agonia sempre em movimento.





III

Mas vou-me

As ruas à minha volta, corredores de uma vila

Rua central, igreja, periferia, bairro nobre, distrito industrial.

E só.

Não há outro caminho, não há opção,

Há o labirinto

Esta conspiração de imobilidade criada por

Minotauros de botinas,

E vou-me embora sem ir para lugar nenhum.

Camuflando-me de trouxa, calado, pacífico.

Vou-me, já vou, lá vou eu.

Deixe-me ir, preciso andar

Sem nunca sair do lugar.


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