FIM DE SEMANA NO PURGATÓRIO
I
SábadoMadrugadaGritante.
Motores de motos gritando como corujas epiléticas.
O bate-estaca artificial das boates noturnas
Lembra-me os tambores que se apagaram em mim.
Na rua, garotada em vodka com energético e halls,
Sonhos e delírios, bonés circulando, cuecas a mostra,
auras de
neurotoxina.
Prazeres hightech sob o sorriso de uma lua minguante.
Lá onde a carne se confunde com o asfalto,
celulares são órgãos sexuais em plena latência.
A avenida do sempre nunca e dos amores engolidos.
Circulo em falsos sorrisos e risos ensaiados.
Dejavu sem nostalgia. Nunca estive aqui.
Longa carreira de péssima cocaína.
II
Domingo de manhã, na feira.
Onde cura-se a ressaca com pastel de chicória e
bacon.
Muita água para afogar pupilas dilatadas.
Um cara com sotaque chicléti me oferece um pastel.
--- Qué um pastel, tio?
Não obrigado, meu amigo, estou de jejum, sóbrio e
cansado.
Insone a luz do dia.
III
Domingo a tarde é memorabilia incontrolável
Se doce, acentua a amargura do
Presente.
Caso ácida emulsiona o sal das lágrimas nunca
vertidas,
Domingo a tarde passa aos trancos,
Um cálculo renal na ampulheta dos dias.
IV
A noite invade a cidade com o grito
Dos prazeres não encontrados.
O ar filtrado pelo desespero, tudo em urgência e
pânico.
Tranco a casa. Desligo a TV.
Vigília.
Chacais e carcarás disputam a carcaça do fim de
semana.
V
Cheio de sobras na segunda.
Tudo se arrasta
Um sol seco esperando andorinhas
Toneladas de Ressaca circulando pelas ruas
bailando em vagarosos falsos passos.
A cidade como assombração japonesa:
Flutuando sem pressa no mesmo lugar,
Na densa gravidade em que habito.
Nos bairros, velhinhos saem para tomar a fresca,
Crianças brincam nas ruas.
Hoje tudo em mim grita:
SILÊNCIO
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