DOS EFEITOS COLATERAIS DOS AMORES SECRETOS–III - O TÚMULO

 

all roads lead to shadow

 

Mas a solidão mórbida, remete a vida, à semente de mim que me restou e que deve brotar no meio do pântano de destas desilusões amorosas.

Uma semente que tem que lutar para livrar-se do rosto sorridente daquela que diz que te ama, das saudades que invade o peito, os olhos marrons pelos quais correria o mundo para salvar.

Uma semente de mim. Do que sou sem ela, não do que seria com ela.

Ela partirá para novas fertilizações polém, vento, volatilidade.

E eu engolirei o amargo resquícios deste processo polínifero, até que o vômito me liberte do Amor.

Para nunca mais me acorrentar.

Pois sou velho e cada vez mais mortal, e na minha idade, o amor tem o aroma das amêndoas doces do arsênico que revigora e mata.

Para que não mais ame, engulo borra, cinzas, dor, memórias, e vomito tudo aqui, onde sei que não serei lido, ou caso for, sei que nada dirás, leitor.

Pois és silencioso, terrível e belo, meu irmão, meu cúmplice.

Meu confessor que nunca revelará meu amor secreto.

Pois tão secreto é, que já esqueci seu nome, embora a lembrança terna de sua luz efêmera brilhe em cada vez mais em pequenas lágrimas inaudíveis em meu interior.

E tudo o que resta são os sons das gotas.

Da torneira escorrendo.

Da chuva no peito.

Da lágrima mal caída.

Lavando as ruínas caladas desta paixão destruída para nunca mais olhar para trás, partir.

E transformar este amor num túmulo abandonado, cujos ecos, um dia, me trarão sorrisos...

Ou o alívio de uma lágrima de esquecimento!

Comentários

Postagens mais visitadas