Canção do Amor Canibal
Bendita esta dor que me une a ti, porque, nas solidões que me envias, descubro a prova da impossibilidade de tua existência...
Alejandro Jodorowsky
Toda vez que penso em você sem mim, não é ciúme, mas sim, uma espécie de automutilação. Tenho que anular um lado meu que quer você apenas por querer e deixar que a lágrima que a tua infidelidade provocou morra em meus olhos.
Ninguém pode saber o que sinto.
Nem mesmo você, sinto muito.
Então tento ser cínico.
E sofro por dentro.
Porque não deixaram nosso amor florescer.
E você preferiu só e livre ficar.
Ficar com caras que são metade do homem que fui antes do acidente.
E você não me quer mais desde o acidente...
O acidente que me deixou tetraplégico...
O acidente que nunca cicatrizou.
Sempre ferida, aberta, no meu e no teu peito.
Impossível o amor...
Pois o que sinto não é amor...
E sequer tenho coragem de saber o que sinto.
Apenas sigo as pulsações sombrias desse sentimento que me deprecia, enraivece, transforma esse meio-homem que sou numa besta grande e selvagem e sedenta.
De ti.
Do gosto da tua carne.
Não no falo, “amor”...
E sim no dente, na língua, na garganta...
Saber o doce prazer de devorar você inteirinha num jantar com vinho e batatas a doré.
Mastigar tudinho.
E não deixar nada.
Nem para você, nem para mim, nem para ele.
Nem pro mundo, nem pra vida, nem pra ninguém.
Você encima da mesa de jantar.
Com vinho e batata a doré...
Comentários
Postar um comentário
Mande fumo pro Curupira